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A seleção brasileira finalmente convenceu a torcida com sua atuação na última partida contra a Costa do Marfim. A festa contou com chapéu, a melhora física de Kaká, e com a ajuda do braço de Luis Fabiano. A comemoração, no entanto, foi interrompida pelo desentendimento do técnico Dunga com um jornalista da Rede Globo na coletiva de imprensa que seguiu a partida.

O que será que motivou os xingamentos pronunciados por Dunga? Terá sido somente o sinal negativo com a cabeça realizado pelo jornalista da TV?

Segundo editorial do Fantástico, exibido no domingo, o técnico brasileiro não apresenta imagem compatível com sua posição, e teria gratuitamente ofendido a imprensa. Tadeu Schmidt, que apresentou a notícia, defendeu ainda o compromisso da Rede Globo de “levar a melhor informação para você, telespectador”. Na prática não é bem isso o que acontece.

Dunga na coletivaA grande imprensa defende com garra seu direito à liberdade. A maior parte dos brasileiros acaba caindo nesse discurso, que parece significar liberdade de expressão. O horror a qualquer forma de controle social, culminante com o termo censura, talvez seja herança de nossos longos períodos ditatoriais.

A verdade é que a liberdade de imprensa não representa liberdade de expressão. A mídia hoje se organiza em conglomerados, concentrados nas mãos de grupos dominantes, que representam interesses políticos e econômicos específicos. A liberdade de expressão pública só é real para aqueles que conseguem competir com essas grandes máquinas. Ao resto dos brasileiros, é negado esse direito.

A internet pode representar um grande avanço nessa democratização. Ontem, por exemplo, o que mais se escreveu no twitter foram críticas à Rede Globo, especialmente ao tal editorial apresentado no Fantástico. No entanto, assim como o já internacionalmente famoso “Cala a boca Galvão”, essas críticas não vão chegar ao telejornal global, ou a nenhum editorial no programa de domingo.

Dunga certamente foi além do que deveria na coletiva, e não cabe defesa a ele. Uma figura pública deve estar preparada para lidar com as pressões de seu cargo, ainda mais se tratando de uma figura do futebol, tradicionalmente causador de grandes polêmicas.

Ao que tudo indica, o repórter xingado na coletiva não estava dirigindo sinal negativo nenhum ao técnico – como este teria entendido. Era apenas mais um jornalista cobrindo a entrevista. A tensão entre Dunga e imprensa, porém, é antiga, e desmente em parte a teoria da gratuidade da grosseria do técnico.

Foram inúmeros os factóides criados pela mídia envolvendo a seleção brasileira, que sempre o irritaram: exemplos do autoritarismo de Dunga, as dores de um jogador, a contusão de outro – posteriormente desmentidas. Ora, uma imprensa incapaz de identificar pautas atraentes acaba por criar outras.

Dunga está sendo seguidamente atacado por negar à grande imprensa brasileira o registro de imagens que podem representar muitos pontos no IBOPE, com as dos treinos da seleção. Até Maradona, o técnico argentino dos óculos de brilhantes e das promessas de nudez em praça pública, está sendo mais elogiado.

Os xingamentos de Dunga, no entanto, foram pessoais e direcionados a um repórter, que simplesmente fez o gesto errado na hora e no local errado. Infelizmente, não foram motivados por uma compreensão ou crítica real à mídia com que está lidando, e com a qual todos os brasileiros são obrigados a lidar há várias décadas.

Fica a deixa para que todos e todas ocupem seus espaços de livre expressão, como a internet ou rodas de conversa, com um debate um pouco mais profundo sobre o papel que vem sendo desempenhado pela grande mídia na cobertura dessa copa do mundo.

Leia também o artigo de Ale Terribili “Dunga X Imprensa”, clicando aqui.