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Filme, debate, homenagem à Tia Maria da Serrinha e grande roda: a comemoração do dia estadual do jongo, 26 de julho, organizada pela Comissão de Cultura da Alerj, reuniu mais de 400 pessoas na sede do Ministério da Cultura (MinC) e emocionou os presentes. “Esta atividade mostrou a articulação dos jongueiros, na luta pela preservação e valorização cultural dessa importante expressão fluminense. O jongo faz parte de nossa história, representa a resistência dos povos escravos, a alegria e a força da tradição oral, tão viva nos quatro cantos de nosso estado”, afirmou o Deputado Robson Leite, presidente da Comissão de Cultura.

A audiência foi aberta com a exibição do filme “Passados Presentes”, produzido pelo Pontão do Jongo e pelo LABHOI/UFF, apresentado pela Professora Martha Abreu, da UFF. Em seguida, um debate sobre políticas de valorização do jongo e da cultura popular reuniu jongueiros, acadêmicos e poder público.

Rogério da Silva, representante do noroeste do estado, puxou um jongo para abrir a atividade e homenageou Robson, presenteando-o com um quadro assinado pelos jongueiros da região. Em seguida, Délcio Bernardes, representante da Costa Verde, tomou a palavra e destacou a necessidade de combater todo o preconceito e o racismo, ainda muito vinculado ao jongo: “Só teremos um país livre quando tivermos nossos direitos garantidos. Precisamos ocupar os espaços e construir com nossas próprias mãos um país democrático de fato”.

Antonio Nascimento Fernandes, do Jongo de Pinheral, lembrou a necessidade de verificação junto ao INCRA dos processos das comunidades quilombolas, movidos por diversos grupos jongueiros. Muitos ainda lutam pelo reconhecimento de suas origens, e pelo direito à terra previsto constitucionalmente.

Dyonne Boy, do Jongo da Serrinha, expôs a dificuldade enfrentada pela comunidade para a construção de uma sede própria, que pretende ser um grande centro cultural. Marcos André Carvalho, jongueiro e coordenador de Economia Criativa da Secretaria de Estado de Cultura, foi além: “Todos os grupos precisam de um centro cultural. O problema é maior para as comunidades do interior, que são mais pobres, e onde as secretarias de cultura também não contam com muitos recursos. O poder estadual deve colaborar”. Marcos ressaltou também a importante luta para que os mestres de cultura popular tenham acesso à aposentadoria.

Eva Lucia, de Barra do Piraí, pediu ajuda da Comissão de Cultura da Alerj na interlocução com as prefeituras: “Muitas comunidades enfrentam dificuldades no reconhecimento pelos governos municipais. Precisamos dessa valorização na base, afinal a prefeitura é o veículo público que está mais próximo de nós”.

Carlos Fernando, superintendente do IPHAN no Rio, lembrou de outro significado da data: “Hoje, que também é o dia de Sant’Anna, na tradição católica avó de Jesus, dedico a minha fala a essas velhas mulheres que transmitem de geração a geração nosso patrimônio imaterial. Sant’Anna abraça o jongo e todo nosso patrimônio histórico”.

André Diniz, chefe da representação do MinC no Rio de Janeiro, Rodrigo Nascimento, representante regional da Fundação Cultural Palmares, Claudia Márcia Ferreira, do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Deborah Cheyne, presidenta do Sindicato dos Músicos RJ, Roberto Ponciano, presidente do SISEJUFE, e dezenas de grupos jongueiros, inclusive de outros estados, também estiveram presentes, demonstrando seu apoio, expondo suas pautas e lutas.

Robson encerrou o debate afirmando trabalhar para que seu mandato e a Comissão de Cultura, que preside, sejam parte de um grande projeto de empoderamento popular e radicalização da democracia: “E não dá pra falar neste projeto sem citar Paulo Freire e Augusto Boal, que enxergaram a cultura como instrumento de emancipação. É nesse sentido que hoje entregamos essa Medalha Tiradentes à Tia Maria, grande exemplo de luta em prol da valorização e disseminação da identidade e da cultura popular fluminense”.

Conduzida a frente do auditório, aos 90 anos Tia Maria recebeu das mãos de Robson a maior comenda do estado do RJ, por seu incansável trabalho de preservação do Jongo. Emocionada, não deixou de agradecer Mestre Darcy, pioneiro na retomada e difusão do jongo na Serrinha e no estado.

Em seguida, uma grande roda de jongo se formou nos pátios do Palácio Capanema. Entre os jongueiros, destacava-se a presença de Tia Maria, que carregava no peito a medalha recebida. Veja as fotos da atividade aqui.