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Certa vez, durante uma palestra em um encontro de Jovens de uma comunidade vizinha a minha, um rapaz questionou-me sobre os motivos que levaram a Igreja a, conforme suas palavras, “proclamar a opção preferencial pelos pobres”. Acrescentou ainda que, segundo a visão dele, todos nós deveríamos ser iguais sob os olhos de Deus. Assim sendo, tornava-se incompreensível para ele essa preferência pelos pobres, constantemente citada nos documentos da Doutrina Social da Igreja.

Essa pergunta foi muito interessante e a reflexão que conduzi nesta ocasião me marcou tanto que gostaria de trazê-la para a nossa coluna deste mês.

Quando o jovem me fez essa indagação, a primeira questão que aprofundei foi exatamente em cima do que ele havia falado: o fato de “sermos todos iguais”. Acredito sinceramente que esse é o grande sonho do Pai. Entretanto, será que realmente somos todos iguais? Será que o mundo de hoje trata todas as pessoas de maneira igual? Infelizmente não. A realidade perversa de uma sociedade que oprime e exclui os mais pobres nos conduz a uma triste constatação: se todos nós fôssemos tratados com igualdade não haveria cerca de dois bilhões de pobres e miseráveis no mundo. O Reino de amor, prometido pelo próprio Cristo no seu evangelho, é um reino de libertação, paz e justiça. O cristianismo é essencialmente transformador. O Cristão, como discípulo do Cristo, não tem outro compromisso senão com a firme caminhada na direção dessa transformação da realidade socialmente perversa que está diante de nós. E o Espírito nos anima no resgate da nossa esperança para esse desafio que é o sonho do Pai.

Aliás, não é somente nos documentos da Doutrina Social da Igreja que encontramos as citações referentes à opção preferencial de Cristo pelos pobres: essa escolha está no Evangelho, nas palavras do próprio Cristo quando ele coloca o Seu rosto como sendo o rosto do irmão excluído. O Evangelho de São Mateus, em seu capítulo 25 versículos 31 a 46, deixa muito claro os critérios para se alcançar a salvação: resgatar o irmão excluído mudando a sua realidade. “Todas as vezes que fizestes isso ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes”.  Essa passagem deixa claro que não basta apenas perceber e se penalizar pelo irmão pobre, mas, sobretudo em agir de forma concreta para mudar a sua realidade. A opção pelo Cristo é a opção pela libertação daquele que sofre e é marginalizado. Esse é, sem sombra de dúvidas, o verdadeiro compromisso do Cristão.

Esse compromisso com o irmão pobre se repete todos os anos, durante a semana santa. A identificação do excluído com o sofrimento de Jesus fica evidente nesse período. Entretanto, cabe a nós, fiéis seguidores de Cristo, transformar a tristeza da sexta-feira santa na alegria do Domingo de Páscoa. E essa transformação somente será possível através da nossa atitude. É ela o meio de propagação da graça divina. Somos nós os escolhidos de Deus para resgatar o seu povo. Da mesma forma como Moisés retirou o seu povo da escravidão do Egito, nós somos convidados pelo Cristo para celebrar a nova Páscoa. Ou seja, para através da libertação do seu povo, instalar o Reino de Justiça e Paz prometido pelo Cristo no Evangelho.

Um grande abraço, a Paz de Cristo e vamos colocar sempre o “Bem Comum acima de tudo”.
Robson Leite