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Depois de alguns dias de campanha no twitter, o “Dia sem Globo” aconteceu na última sexta-feira. O movimento surgiu após o grande desentendimento entre o técnico da seleção brasileira, Dunga, e o jornalismo da TV Globo.

Sobre esse desentendimento já tratamos aqui no blog, ponto alto de uma crise que começou com o veto de Dunga a gravação de imagens e entrevistas exclusivas da seleção pela Rede Globo, que tem este direito garantido há várias Copas. Deixamos clara a nossa não defesa do comportamento de Dunga, que acertou ao tirar a exclusividade da Globo, mas erra ao ficar repetidamente destratando a imprensa. (Isso sem falar de futebol.) Esclarecemos também nossas críticas ao jornalismo comercial feito pela grande mídia. O protesto organizado no twitter, a principio, seria uma maneira de criticar a manipulação e a falsa idéia de transmissora da verdade defendida pelo canal.

O resultado da campanha aparentemente não foi dos mais expressivos (você pode conferir no Blog do Azenha os números mais detalhados). Ao que tudo indica, a audiência da TV Globo não foi abalada: obteve 44 pontos de média, contra 13 da Band. Em comparação com o jogo anterior, as duas emissoras obtiveram índices superiores de audiência. A vitória da campanha pode ser percebida na queda significativa do share – porcentagem de aparelhos sincronizados na emissora sobre o número total de televisores ligados. A Globo sofreu uma perda de 5% entre os dois jogos, enquanto a Band subiu 3%.

Claro que não pretendemos de forma alguma defender a Band, que também é uma emissora comercail e só não ocupa o mesmo papel de desinformação que a Globo na sociedade porque não alcança poder para isso. Independente desses resultados, o que mais impressionou nesse movimento foi a capacidade de sua multiplicação na internet. O “Dia sem Globo” foi totalmente idealizado e disseminado por mídia gratuita, pelo interesse da sociedade online. O hastag da campanha (termo utilizado para a expressão de referência no twitter) ficou na lista dos mais mencionados do país em vários momentos da semana.

As mídias sociais representam um espaço de comunicação individual. Com o twitter, facebook ou orkut, e também utilizando blogs gratuitos, cada indivíduo pode expor suas opiniões e comentar sobre o que lhe interessar. Agora, mais do que isso, a campanha provou que podemos criar uma rede de comunicação online, de divulgação de ideias.

Ao longo da história, essa nossa liberdade de comunicação individual foi sendo substituída pela liberdade de imprensa, onde se restringiu o direito de pronunciamento público, de ideias e opiniões, à mídia formal e monopolizada. A liberdade de expressão, que deveria ser universal, se confundiu com a liberdade de imprensa. Esquecemos que a comunicação é um direito humano, responsável pela formação de laços e organizações sociais. Em uma sociedade democrática, ela deve estar descentralizada, ser parte do cotidiano da população, e não controlada por grupos empresariais.

A liberdade de imprensa só pode ser discutida em uma sociedade sem monopólios, onde haja real concorrência entre diversos grupos de mídia, de origens e linhas diferenciadas. Como defender a liberdade de uma imprensa que é única, vinculada aos interesses de um grupo social definido, sem um contraponto ou um concorrente a sua altura? Esse modelo de liberdade de imprensa que temos atualmente é na verdade o monopólio da informação.

A internet mostrou mais uma vez ser um contraponto eficaz a este monopólio, e a possibilidade de um futuro com maior democracia de informação. Claro que ainda temos um longo caminho até que esse sonho se concretize, incluindo inclusive a universalização do acesso. Enquanto isso, ocupe esse espaço, produza na internet. Vamos batalhar diariamente pela volta do nosso direito de comunicação e liberdade de expressão.

Leia mais sobre o assunto no site da Carta Maior.