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No último domingo o Jornal Estado de São Paulo publicou um editorial chamado “Mal a evitar”. O Mal, claro, é a eleição da companheira Dilma a presidente. O texto, uma tardia declaração de apoio a candidatura demotucana de Serra, foi uma resposta às recentes declarações de Lula. Cansado de acompanhar a cobertura parcial da velha mídia, o presidente defendeu que seus editores deveriam declarar clara e diretamente seu apoio a um candidato, sem se esconder atrás de uma imparcialidade suspeita.

O desabafo do presidente foi suficiente para iniciar uma reação em cadeia por toda a velha mídia (veja por exemplo a capa do Extra da última sexta-feira). A acusação agora era de que Lula pretendia “censurar a imprensa”. Esses velhos cães de guarda das oligarquias não admitem uma crítica sem que a qualifiquem como censura. Acima do bem e do mal, lançam livremente em suas páginas as mais impertinentes afirmações sobre o principal mandatário do país. Ora, não é direito de qualquer cidadão, incluindo o presidente, criticar e emitir opinião? Contra os “donos da comunicação” parece que não – com o poder dos que dominam as palavras e as imagens, tentam impedir que suas próprias práticas sejam alvo de um exame crítico.

O cartunista Latuff, em excelente vídeo (veja aqui), cita trechos de editoriais publicados nos dias seguintes ao golpe militar de 1964. É impressionante a semelhança entre os textos, os de ontem e os de hoje. As mesmas acusações aos governos eleitos democraticamente pelas forças populares, de Jango e de Lula, de que representam uma ameaça à “democracia”. Utilizam para essa palavra, que deveria significar tolerância e convivência com a diferença, para destilar ódio às classes populares e aos governos que as representam.

Coincidência? Articulistas e intelectuais, de outros jornais, já reproduziram esse discurso. Afirmam que a oposição à Lula é a verdadeira defesa da democracia. Como? Com mentiras e calúnias? Contrariando e insistindo em desqualificar decisões que são constitucionais? Não seriam estas as pretensões golpistas e antidemocráticas?

Ainda bem que no mundo em que vivemos hoje decai o oligopólio dos grandes meios de comunicação: essa velha mídia organizada em conglomerados empresariais sob o controle de seis famílias no Brasil. Temos a opção de nos comunicar pela internet. Isso traz novidades: cada pessoa pode ser também uma fonte de informações, um emissor de conhecimento. Em rede, onde um conteúdo alternativo é copiado livremente em vários outros espaços até atingir milhões de pessoas, podemos ter um contraponto, uma ou várias diferentes visões sobre o que acontece no nosso país.

Essa forma de organização da sociedade e da informação, em rede, é nossa grande arma à velha mídia golpista, que insiste em desqualificar aqueles que foram eleitos democraticamente, que aceitaram o jogo da democracia e não querem mudar as regras depois de ter começado (vale a pena ler a Carta dos Juristas aos brasileiros).

É o que acontece com a reação a essa grotesca peça de ficção apresentada pelo Estadão. Embora correto na intenção de deixar clara a sua posição, se vale de falsas informações para fazê-lo. Mente descaradamente para justificar sua opção – não o faz pelo fato, pela verdade ou mesmo por uma posição, mas por ser parte de uma parcela da sociedade que não admite ver um operário nordestino ser aclamado mundo afora como uma nova liderança em busca do diálogo dos povos. Parte de uma parcela da população que não admite ver a sua empregada doméstica ingressando na Universidade, fazendo compras no shopping, com TV e geladeira nova. Uma parcela, pequena e desesperada, que chora a perda de seus privilégios.